Quando um paciente chega a uma unidade de saúde do Ceará, sobretudo em estado grave, todas as ações médicas se voltam a um objetivo: mantê-lo vivo. Em três dos oito hospitais estaduais, porém, os procedimentos não têm evitado tantos óbitos quanto o desejado. O limite de mortes de pessoas que estavam hospitalizadas há, pelo menos, 24 horas foi ultrapassado pelos hospitais Geral de Fortaleza (HGF), Waldemar de Alcântara (HGWA) e São José (HSJ), em julho deste ano, de acordo com indicadores do portal Integra SUS, da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa). Esses óbitos são contabilizados a partir da taxa de mortalidade institucional que, conforme a Sesa, relaciona o número de pacientes que morrem após, pelo menos, 24 horas da admissão hospitalar, em um mês, e o número de pacientes que saíram do hospital no mesmo período, seja por alta, evasão, desistência do tratamento, transferência externa ou morte.
De acordo com o Ministério da Saúde, em decorrência do aumento da resolutividade dos procedimentos hospitalares, “24 horas são tempo suficiente para que a ação terapêutica e consequente responsabilidade do hospital seja efetivada”. A taxa-limite, então, é estabelecida como meta para cada um dos hospitais. O secretário estadual da Saúde, Dr. Cabeto, explica que cada hospital e cada perfil de gravidade têm uma mortalidade prevista, porém, em unidades de alta complexidade, “se espera mortalidade abaixo de 3%”. Segundo o gestor, os dados do Integra SUS não depõem contra a eficiência das unidades, mas dão um norte para os esforços a serem aplicados nos próximos anos. “Colocamos meta de redução de 10% a 20% nos primeiros 100 dias, para que fiquemos sempre abaixo. Mas qualquer hospital deve se aproximar da mortalidade zero”, afirma.
Cabeto considera que “esse indicador isoladamente não é muito importante” e reconhece a necessidade de se estudar toda a cadeia de fatores por trás das mortes. “Muitas vezes, os pacientes chegam ao hospital muito tarde, e é possível que tenham feito uma peregrinação antes. O dado nos obriga a entender o sistema como um todo”, garante. “O fato de ter muita mortalidade não significa que aquele não seja um hospital seguro”. No HGF, por exemplo, a meta é de 6,1%: mas em julho deste ano, a mortalidade institucional foi de 6,4%, mesma quantidade média do ano passado. Em 2019, o HGF não conseguiu se adequar à meta em mês algum. No Waldemar de Alcântara, a meta é que haja, no máximo, 8,5% de óbitos: no mês passado, contudo, o índice foi de 9%, e o hospital também excedeu o percentual em maio, com 10,4%. Em 2018, a taxa média de mortalidade institucional na unidade foi de 8,9%.
Já no São José, especializado em doenças infecciosas, a meta é que a taxa fique em 9,4%: em julho, o total foi de 9,89%, contra 9,95% médios registrados no ano passado. O São José ultrapassou o limite de mortes em todos os meses, exceto fevereiro e abril.
As três unidades de saúde também não vão bem quando o assunto é a taxa de mortalidade hospitalar: ao contrário da institucional, este indicador se refere às mortes de pacientes que estavam há menos de 24h no hospital, casos em que as ações médicas ainda não são efetivamente responsabilizadas pelas mortes. Neste indicador, a meta do HGF é totalizar, no máximo, 7,1% de óbitos: em julho, o total foi de 7,4%, próximo à média de 2018, que teve taxa de 7,5%. Neste ano, o Hospital Geral de Fortaleza ficou dentro do estabelecido apenas em fevereiro, quando registrou 6,67% de mortes no período. No HGWA, a meta é 9,1%, e chegou a 10,1% no mês passado. O hospital também não conseguiu se adequar em maio nem em julho. Já o HSJ teve a maior distorção: a meta era de 10,95% de óbitos, no máximo, e o total chegou a 11,7%. Dos sete meses, a unidade só atingiu as próprias metas em janeiro, abril e junho.
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